marcosthomazm
A guerra que nunca esfriou e continua a explodir o mundo

Alguns podem ter franzido o cenho, ou mesmo virado a cara pelo tom humorado da outra abordagem sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Não entenderam, obviamente. Muito pela minha inabilidade em tentar ser irônico, reconheço. Fato é que o humor, pra mim, é sim uma ferramenta adequada para explicar esse non sense em que vivemos.
Aparentemente paradoxal, mas é da ironia que se extrai a maior dramaticidade desse freak show mundial. Não existe nada que justifique mais nossa tensão atual que a piada barata em que se roteiriza o Globo hoje.
Bolsonaro, pandemia, Trump, mais pandemia, Puttin...
Não vou pagar de especialista na Criméia e adjacências lá do outro lado, tal qual se enxurrou as redes, aqui no país dos especialistas em p... nenhuma dando pitaco na p... toda.
Mas há algumas contextualizações óbvias, até para um leigo, mero observador distante como eu.
Primeiro, você aí que se acha esquerda true, o comunistão raiz, bolchevique de quatro costados, praticamente, o próprio “Soldado desconhecido”, apenas por defender Putin com unhas e dentes, saiba que até Bolsonaro manifestou solidariedade a Rússia! De diferentão você não tem nada, além do proselitismo político. Esse binarismo de acreditar que alguém está certo para outro estar errado só ofusca o debate. Não existem anjos, nem demônios no tabuleiro geopolítico mundial.
Putin é um megalomaníaco, inescrupuloso, mentiu sobre a invasão semanas a fio, mas, literalmente, está passando o trator sobre uma nação soberana, independente e que não agrediu a Rússia. Civis estão sendo mortos, como sempre.
O senhor da guerra não gosta de ninguém.
Para ilustrar o desprezo de Putin pelos outros não russos, soberania, convenções etc, o líder russo foi até tentar parodiar Belchior e disse que a Ucrânia não existe como país, de fato. Claro que o cearense afirmava que o “Nordeste é uma ficção”, poeticamente e com muito mais charme que o “fela” da terra de Tolstói.
Vamos agora ao ponto dois...
Por outro lado, a visão ocidental da História, propagada pela imprensa sempre alinhada com a narrativa norte americana, o debate fica todo enviesado, comprometido.
Não precisa ser especialista no conflito para saber que há anos os Estados Unidos vinham descumprindo, via OTAN, acordos tácitos firmados com a Rússia, pós Guerra Fria, aquela disputa que acabou apenas nos livros de história, mas prova estar mais acesa que nunca.
A OTAN, repito, nada mais que um braço estendido dos EUA, que a opera, manobra, estica e puxa, não só integrou várias ex-nações soviéticas quanto aliciou a própria Ucrânia, vizinha da Rússia.
Neste pantanoso terreno da geopolítica, claro que a Rússia, assim como qualquer potência, jamais desejaria, ou aceitaria, impassível, ter oponentes históricos com poderio militar no seu entorno. A resistência era natural, o problema é a dosagem.
Se queria reagir ao avanço estratégico da OTAN, o fizesse por meios diplomáticos, esgotasse-os.
Em pleno século XXI, com tantas experiências traumáticas, poderio bélico cada vez mais destrutivo e definitivo para humanidade, uma guerra nunca é a melhor solução. A ninguém...
E lembremos que o mesmo Estados Unidos invadiu há não tanto tempo assim nações soberanas. Afeganistão e Iraque, o último, por sinal, alegando a existência de armas de destruição em massa, jamais encontradas.
Devastaram o país para lucrar reconstruindo-o. "Criando dificuldades para vender facilidade". O que de fato nunca houve: reconstrução. Ainda hoje o Iraque claudica para juntar os cacos.
O que aconteceu de punição global a terra do Tio Sam após isso? Nada. Pelo contrário, continuam se arvorando e sendo vendidos como bastiões da paz mundial. Ele, o país que mais lucra com as guerras e o belicismo no mundo.
A Rússia já tem uma série de sanções econômicas anunciadas por todas as partes do mundo.
Parece pouco. Se pequenas nações, incluindo Cuba, à época financiada pela URSS por tanto tempo, resistiram as privações do mercado mundial, quem dirá a Rússia com reservas vultosas e produtora de grande parte do que consome??
Mas é o que se tem para hoje. Ou alguém, em sã consciência, considera plausível reação militar ao país com maior poderio nuclear do planeta?
Fato é que, nós mortais da periferia do mundo, estamos a mercê, ao sabor do vento, entregues a sorte, nas mãos destes que detêm o poder e suas incontroláveis sanhas expansionistas, desrespeito a tratados formais, acordos verbais, aperto de mãos etc e tal.
Do oriente ao ocidente, da Rússia aos EUA.
Subvertendo o poeta Dadá Maravilha: Eles arrumam a problemática e nós pagamos com a solucionática.