marcosthomazm
A "Resistência" subiu a rampa em uma posse visceral e democrática

Você pode detestar, ou apenas não gostar, quem sabe tem preferências outras, ou mesmo real antipatia, o que for, mas uma única palavra resume todas as celebrações da posse de Lula como presidente da República: visceralidade.
Poderia até parodiar a clássica: “quem não gosta de samba, bom sujeito não é” para ilustrar a força, intensidade, carga emotiva do momento vivido ontem em Brasília.
Ou para homenagear o clima de festa, congraçamento popular: “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”.
Repito, independente da afinidade pessoal, passionalidade de apreço, ou repulsa de negação envolvida, é inegável, inevitável sentir, perceber a atmosfera diferente que havia ontem naquele local.
Mais ainda, você pode não gostar de samba, de Lula, estar vivo e não ir atrás de trio elétrico, menos ainda se deslocar física, ou espiritualmente a Brasília, mas não dá para não sentir que aconteceu, acontecia algo de diferente na capital do Brasil ontem.
Não havia espaço para aquelas danças coreografadas, movimentos robotizados, sentimentalismos forçados, apropriação indébita de símbolos nacionais para causas fúteis.
É tempo de resgate de muitos sentimentos perdidos.
Ou, simplesmente, trunfo da Resistência.
Resistência contra o ódio, intolerância, achaque e desprezo ao povo, ataques e ameaças a democracia, personalização, desmonte da estrutura e militarização do Estado.
Sim e a Resistência, simbolicamente, subiu a rampa do Palácio do Planalto.
Aquela cadelinha vira-lata, simpática e animal de criação do casal presidencial: Lula e a primeira dama, Janja.
Visceral, palavra, cirurgicamente, trazida pela colega Josi Simão para resumir a gama de valores, simbolismos, energia e emoções que marcaram a longa, de fato, “festivalesca” solenidade.
Música, festa, quebra de protocolos, representação popular, choro, risos, diversidade e POVO.
Mesmo durante os ritos formais, dentro do Congresso, a atmosfera era mais calorosa, que a convencional geleira que marca estes eventos.
Rolou até alguns: “Olê, olé, olá... Lulá, Lulá”.
Se Bolsonaro artificializava espontaneidade, simplicidade com uso e poses forjadas de assinatura usando caneta Bic, Lula “sacou” uma esferográfica ainda mais raiz: made in Piauí.
Quer mais emblema para representar o espírito do projeto de governo, que defende, que associar seu ato de posse a um dos estados mais pobres de uma das regiões mais castigadas do país?
Sinais, fortes sinais.
É Caê, "o Haiti não é aqui", mas o Piauí é.
E há muitos Piauís no Brasil.
E como diz o próprio Lula, “quem tem fome não pode esperar”.
O que dizer do clima lá fora, longe da climatização do ar condicionado e conforto de poltronas reclináveis??
Água para beber e para se banhar.
Jatos jorrando e o povo se lambuzando de alívio e esperança.
Refrescando o calor da energia popular em uma maratona extensa de mais de dez horas de duração para fazer inveja a Festivais de Rock e Micaretas Brasil afora.
Negro, pessoa com deficiência, indígena, criança, professor.
Estes foram os personagens da festa democrática.
Tudo o que apavora, atormenta o bolsonarismo: Diversidade e Cultura (já com status ministerial, de volta, graças).
Aliado a isso discursos de paz, amor, justiça social e olhar proeminente aos mais necessitados e vulneráveis.
Ah, como prometido em campanha, teve também ações concretas imediatas: revogaço da política armamentista, Bolsa Família, novo mínimo com ganho real após anos de achaques sob governo Bolsonaro, medidas ambientais etc e tal).
Tiveram ainda movimentações claras, explícitas contra esta política mercadológica, entreguista e de desmonte que tomou conta do país. Despachos contra estatização de Petrobrás, EBC dentre outras.
Sentiu falta de algo? Mas, calma. A hora vai chegar.
Entre seus atos Lula determinou 30 dias para analisar tecnicamente o calhamaço de sigilos impostos por Bolsonaro, de cartão de vacinação a visitas sorrateiras.
Lembra dos personagens extras, que roubaram a festa?
Na primeira descrição, propositalmente, omiti a responsável por passar a faixa a Lula.
Aline Sousa, mãe de sete filhos, terceira geração de catadora de materiais recicláveis na família.
Foi essa mulher simples, do povo, a responsável por colocar no peito de Lula a faixa presidencial.
Obrigado por sua covardia nos gerar este ato, Bolsonaro.
Nada melhor que reciclar a faixa e símbolos do Brasil após tanto tempo mergulhados em lixo tóxico.
Mas, como todo fim de festa, vamos a rotina da vida real.
As urgências não respeitam ressaca e a existência não considera simbolismos.
Que sobrem ao senhor presidente Lula e toda a equipe de governo já empossada a consciência impositiva de pôr em prática todo o compromisso firmado e toda a esperança do mais necessitado povo brasileiro.
Que o slogan de governo “União e Reconstrução”, mais do que nunca, esteja além de uma estampa.
Estaremos de olho, atentos, fortes e exigentes.