marcosthomazm
As precocidades e questionamentos de quem já toma banho sozinho

Eu já anunciava em casa e me guardava, esperando o apocalipse:
-Menino a partir de sete, oito anos de idade entra naquela fase “cheia de gosto ruim”.
É uma virada de chave abrupta, que até espanta pais e mães de primeira viagem.
O “pivete” começa a se sentir gente grande apenas por ter mais de 1 metro e quebrados, tomar banho sozinho e expressar opinião sobre alguma coisa, como quem ganha a batalha entre Goku e Vegeta!?!?
É um tal de:
“não quero ir.”
“Por que temos que fazer isso?”
“Por que eu sempre tenho que acompanhar vocês?”
“Por que não posso ficar em casa sozinho?”
“Eu odeio tomar banho!”
“Se você pode por que eu não posso fazer?”
Em resumo, é a “humanização” do ser humaninho na essência.
A hora que embaralha a natureza do pequeno cidadão com o ambiente externo.
Já não se sabe o que é mais forte, ou força primária, frente ao outro no processo.
E a culpa é de quem? Os pais. Sim, é você aí mesmo.
Afinal, quem, senão nós, são os, primeiros a transmitirem os vícios, traumas, fragilidades, ganância, egoísmo e toda sorte-azar de sentimentos mundanos?? .
Isso tudo somado a doses homeopáticas de provocação e desafios, que afloram naquele ser.
Vivem a testar a autoridade dos pais, os limites impostos a si pelos genitores e pela própria natureza.
O Ben, tem apenas seis anos, mas como boa parte dos seus contemporâneos, usa e abusa da precocidade até nestas questões.
Como toda criança, ele tem a própria carta na manga para amenizar os efeitos da antipatia que as reações exasperadas dos infantes causam nesta época.
Uma espécie de charme, um encanto inato que as crianças carregam ofuscadas para liberar como um pó mágico, hipnotizante, magnético na hora que “o bicho vai pegar”.
Quebram nossas pernas.
No caso dele é uma ironia seca, madura demais, sem precisar de elementos explícitos, ou explicações exageradas...
Era noite, após a pizza eu pedi a Ben para jogar meu guardanapo no lixo.
-Ô mãe, meu pai acha que eu sou garçom dele!
Indignado, primeiro com a resistência mirim a um pedido/mandado paterno sem maiores traumas.
Segundo porque o pouco pra esta turminha da geração qualquer letra aí é muito!
-Rapazzzzzzzz. Você acordou hoje, quem cortou a melancia e trouxe até você no potinho, em mãos? Depois quem assou o pão na manteiga e te serviu junto ao achocolatado mexido com carinho? Quem misturou o feijão e arroz e cortou a sua carne no almoço? Quem pediu, pagou e cortou a pizza para você se deliciar, acompanhado de um suquinho de caju passado na hora?
Mal terminava de falar e Ben em um giro de corpo já havia recolhido o pedaço de papel e seguia determinado para a cozinha.
Não sem antes lançar aquele olhar sorrateiro, malandro.
Como se, em silêncio, dissesse, sarcasticamente:
-Vai apelar é??