marcosthomazm
As tragédias que só as tragédias mostram – “O Haiti é aqui”, ali, em todo canto...

Eu não sei contar bilhões.
Nem consigo imaginar o volume desse montante, ou em quantas “Pampas” cabe essa soma de nove dígitos.
Nem adianta me acusar de invejoso, etc e coisa e tal, que eu não tenho qualquer ambição de ser bilionário.
Minhas pretensões são mais humildes.
A mim bastava “ter um milhão de amigos” e que cada um me desse um real.
Mas, hoje eu queria falar de bilionários em outra perspectiva, diferente de ontem, quando falava de vazio existencial e afins...
O ponto de vista aqui é da parte que nós, enquanto sociedade, vemos, alimentamos e colocamos esta “casta” em posição de privilégio.
Naturalizamos o tratamento diferenciado aos “escolhidos”, espécie de mais capazes nesta selva de “serhumaninhos”.
Toda tragédia humana provoca natural comoção popular.
E assim deve ser.
Não foi diferente quando eclodiu nos noticiários de todo o mundo a notícia do desaparecimento do submersível com 5 pessoas, QUASE todos bilionários.
Tal qual a alta pressão que implodiu a nave aquática, uma força-tarefa descomunal foi montada para o resgate.
Quase uma dezena de países mobilizados e diretamente envolvidos.
Os EUA quase mandaram a NASA desvendar o “espaço” do fundo do mar.
Não se falava de outro assunto.
Logo nas primeiras abordagens já me veio à tona o valor dado, a cobertura dispensada e o esforço empreendido em tragédias recentes e cotidianas como naufrágio de embarcações com refugiados fugindo da fome, miséria e guerras, via de regra provocadas por estas mesmas potências envolvidas em resgatar bilionários.
Mas isso é outra história, pelo menos, aparentemente.
Para contextualizar e temporalizar, na semana anterior à tragédia “titânica”, um navio com nada menos que 700 migrantes, dentre as quais 100 crianças, afundou na Costa Grega.
Para não ser injusto, veículos independentes, parte da mídia alternativa até estabeleceram paralelo entre os casos.
O ex-presidente Barack Obama também apontou a diferença de tratamento em tom crítico.
Apenas quatro dias separam os fatos.
Os bilionários não foram resgatados apenas, como se sabe, porque seus corpos viraram fragmentos.
Mas todo maquinário mais moderno, ultrassônico, high-tech, naval e espacial esteve à disposição.
Já os corpos dos centenas de “pretos, pobres e mulatos” no Mediterrâneo, após sérios indícios de negligência, descaso, dolo mesmo do governo grego, passaram dias ao mar até serem, finalmente resgatados.
Há denúncia de que a Grécia recusou, inclusive, ajuda humanitária aos náufragos, enquanto monitorava a tragédia iminente...
“Só pra mostrar aos outros quase pretos
que são quase todos pretos
(...)
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos”
(Haiti- Gilberto Gil e Caetano Veloso)