marcosthomazm
CRIADOR E CRIATURA (O RIVER É A IMAGEM E SEMELHANÇA DO DESGOVERNADO FUTEBOL SUL-AMERICANO)

O brilho de uma final emocionante, a competitividade da maior rivalidade do futebol mundial, a disputa em um palco histórico... nada disso pode camuflar o caos, a desordem, o imenso vexame da Taça Libertadores da América de 2018, mais uma competição (des) organizada pela Confederação Sul-americana de Futebol (CONMEBOL).
A final da competição foi disputada pela primeira vez na história fora do continente Sul-americano. Mais que isso, na Europa. Muito mais que isso... No emblemático Estádio Santiago Bernabéu, casa do poderoso Real Madrid (dono de nada menos que 13 títulos europeus) e palco de simplesmente todas as finais dos grandes eventos futebolísticos mundiais (Mundial de Seleções, de Clubes, Eurocopa, Champions League e, agora a Libertadores).
Elementos, que em uma situação normal poderiam passar a falsa impressão de total êxito do evento! Mas quando pensamos na motivação para esta partida decisiva ocorrer longe de casa percebemos o quanto estamos atrasados em relação a organização de competições deste nível e com tanta tradição envolvida!! Nesta feita, migramos para o continente civilizado em uma clara assunção de nossa completa incompetência em garantir a segurança em um acontecimento desta magnitude. Neste momento a Taça Libertadores da América poderia ser chamada de Taça Colonizadores da América!
Em campo, o River Plate foi campeão sobre o rival Boca, na final classificada na Argentina como a “Final do Mundo”, em uma típica e nada comedida exaltação de si próprio portenha. Nas arquibancadas, mesmo a milhares de quilômetros de distância, os hinchas de Boca e River fizeram jus a fama e, literalmente, balançaram o Bernabéu, que, segundo relatos, nunca tremeu quando ocupado pela “fria” torcida madridista. Até a imprensa espanhola relegou aos gigantes, Barcelona e Real Madrid, espaços secundários em jornais!!
Tudo muito lindo, tudo muito bom, maquiagem bem retocada para gringo ver, mas o fato é que, até ali, o festival de trapalhadas e absurdos já haviam manchado em absoluto esta edição da maior competição de clubes da América do Sul. E nada poderia ser mais emblemático do que o River Plate, campeão. O clube argentino nesta Libertadores foi a ilustração perfeita da desordem, da falta de regras, critérios ou credibilidade das competições organizadas pela Conmebol:
1) O River utilizou um jogador irregular durante toda a primeira fase. O defensor Bruno Zuculini devia dois jogos de suspensão em competições da Conmebol. O River, de fato, fez a consulta a entidade antes da competição, esta por sua vez autorizou a utilização (alegando falha técnica depois). O regulamento não prevê punição caso não haja denúncia sobre a irregularidade até 24 horas depois dele ter entrado em campo. Por esta série de patifarias, o River passou impune, incólume, mesmo agindo de má fé deliberada (pois sabia da punição) e utilizando irregularmente um atleta durante mais da metade da competição!!
2) Na semifinal, o técnico do River Plate, Marcelo Gallardo, punido com um jogo de suspensão, desobedeceu sumariamente as ordens e fingindo camuflar-se com um boné, aproveitou o intervalo do jogo em que seu time perdia por 1x0 para o Grêmio e estaria eliminado, desceu de um camarote na Arena gaúcha e foi até o vestiário passar instruções aos comandados. Na cara dura, na maior desfaçatez sem ser interrompido ou impedido por ninguém...
3) Na grande e derradeira final, contra o arquirrival, na sua própria casa, torcedores do River se aproveitaram de uma falha clamorosa na segurança do jogo e, armaram uma emboscada a poucos metros do Monumental de Nuñez, onde destruíram a pedradas o ônibus do Boca, deixando vários jogadores feridos. A partir daí o que se viu foi uma selvageria no entorno e dentro do estádio. Resultado final remarcada, adiada, remarcada de novo, quase cancelada, troca de acusações entre clubes e confederação, ameaças de judicialização da decisão, até a anunciada final em Madrid.
Por todo o incidente que redundou na final mais longa do mundo o River foi “severamente” punido com dois jogos de suspensão a cumprir no próximo ano mais uma multa de pouco mais que um milhão de reais...
Leniência idêntica e impunidade similar sempre foi a tônica da Confederação Sul-americana de Futebol. O Boca também pegou apenas dois jogos após torcedores intoxicarem o vestiário do próprio River de gás de pimenta em outra edição da mesma Libertadores. O Flamengo após a sua torcida invadir hotel da delegação do Independiente, na véspera da final da Sulamericana do ano passado, e transformar o entorno do Maracanã em praça de guerra, no dia do jogo, pegou os mesmos dois jogos. Assim como o Peñarol, responsável por agressões covardes e encurralamento de jogadores e torcedores do Palmeiras em partida pela Libertadores de 2017.
Assim, com a complacência da entidade máxima do futebol no Continente, o esporte local deixa passar a oportunidade de ter nas suas competições algo atrativo além oceano, para colecionar um festival de absurdos, amadorismos e bárbarie, enquanto assiste aos filhos da terra, os nativos serem protagonistas, fazerem brilhar campeonatos e torneios mundo afora...