marcosthomazm
Detalhes das entrevistas que “a Globo não mostra” (2)
Concluído o ciclo de entrevistas do Jornal Nacional, vamos ao segundo bloco de observações das participações de Lula e Tebet, além plim-plim...

Assim como ocorreu com Bolsonaro, a entrevista do JN com Lula começou “na jugular”.
Como há de ser e era esperado.
Atacando ponto fraco, maior vulnerabilidade do sabatinado.
Apenas Lula e Bolsonaro possuem legado, experiência, comparativo na prática ao cargo em disputa.
Normal o tom de cobrança, ou exposição de incoerências ser mais incisivo que aos outros candidatos.
Isso é jornalismo. O resto é chilique de quem vê conspiração em tudo contra o seu candidato oprimido.
Em tempo, registre-se que apenas os bolsonaristas espernearam quanto a isso.
Por que será??
Fato é que, com Lula, nesta perspectiva, foram mais de dez minutos iniciais (eu falei um quarto do tempo de entrevista) de flutuação sobre lava-jato, petrolão, Petrobrás e um impasse entre ele e Bonner.
O global insistia em extrair do ex-presidente “como evitar a teia de corrupção” registrada nos governos anteriores, Lula rebatia citando liberdade dos mecanismos de investigação.
Natural...
Assim, focando na fiscalização, Lula fugia da assunção de corrupção endêmica em setores da sua gestão, como faz desde sempre.
A estratégia de “negar, ou omitir até a morte”.
O que não encontra respaldo no inconsciente coletivo.
Mesmo entre os eleitores lulistas, fora o núcleo duro, de militância fervorosa, a pecha de corrupção no PT é indissociável.
Assim como também, no outro extremo, há um sentimento de reconhecimento a inocência de Lula no processo viciado da lava-jato comandado por Moro e sua gangue.
Bonner, em uma espécie de mea culpa, fez questão de registrar isso no começo da entrevista.
Um trunfo orgulhoso e indisfarçável a Lula.
Alô editor. Vale aquela montagem com mil e uma noites do JN condenando Lula ao vivo e a cores, em rede nacional.
Passado esse emaranhado inicial, o magnetismo de Lula entrou em ação e a entrevista virou um desfile do poder de comunicação do petista.
Longe da apresentação esmiuçada de propostas de Ciro, mas mais distante ainda da sisudez, tensionamento de clima de Bolsonaro, Lula trazia a entrevista para a sua área de domínio: o sentimento nacional.
Você pode não gostar do Lula e ter milhões de razões plausíveis para isso.
Mas é inegável o poder catalisador da sua mensagem, autenticidade da fala e capacidade de exprimir os anseios populares.
Mesmo sem clareza em detalhar como vai fazer algumas das "revoluções", é ele que tem a propriedade de falar de fome, emprego, renda, moradia...
Tanto como quem sofreu na pele estas agruras, quanto como o que mais realizou em todas estas áreas aos brasileiros mais vulneráveis.
Foi esse Lula que, após a longa contenda inicial, tomou conta da “cena”, falando e muitas vezes olhando direto para a câmera, como simulando falar olhando no olho dos brasileiros.
Na proximidade que tão bem sabe usar, se valendo de memória afetiva de bem estar (quem não ouviu, de novo, as lembranças sobre churrasquinho, cervejinha e afins?).
Ainda se valeu do tempo para atacar Bolsonaro (a quem chamou de “bobo da corte”), seu governo e relações escusas.
Mas, ao contrário do esperado, a entrevista de Lula registrou audiência média e máxima abaixo da participação de Bolsonaro.
Se os índices representam empolgação, só o tempo, ou as urnas (ELETRÔNICAS, viu?) dirão.
Teve mais...
A emedebista, Simone Tebet, fechou o ciclo de entrevistas do Jornal Nacional.
Como é tradição, a Globo se vale, integralmente, da legislação eleitoral que obriga participação em debates e sabatinas apenas de partidos com representação parlamentar definida em Lei (apenas as coligações encabeçadas por PT, PDT, PL e o MDB).
Portanto, dentre os sabatinados, a sul-mato-grossensse foi a única mulher.
Como esperado, Tebet registrou o menor índice de audiência dentre todos os entrevistados.
Foi também a mais “morna” das entrevistas, burocraticamente, conduzida pelos próprios jornalistas.
Quase a cumprir tabela.
Convenhamos, o próprio MDB cumpre rito pro forma na candidatura de Tebet.
Lançada no “apagar das luzes”, sem apoio sequer interno, como a própria frisou na entrevista.
Para se ter uma ideia o MDB nordestino, em bloco, simplesmente ignora a candidatura da própria legenda em nível nacional.
Basta olharmos para o candidato emedebista ao governo da Paraíba!!
Onde está Tebet na campanha de Veneziano Vital, aboletado e “amuletado” de corpo e alma na figura de Lula?
Mas se engana quem vincula a estratégia do partido como um simples tapa-buraco para esta eleição.
Talvez, pela primeira vez em tempos, o pulverizado, heterogêneo, bagunçado, mesmo, MDB, tenha algum projeto de consolidação de quadro/perfil a longo prazo.
Há décadas convive sem qualquer protagonismo encabeçando chapa a presidência, ou principais estados, se ancorando em sua extensa teia nacional, mas apenas como coadjuvante.
Paradoxalmente (apenas para quem não conhece o MDB, desde quando tinha o P), o partido detêm a maior capilaridade nacional (maior quantidade de prefeitos), mas oferece a sua representante uma candidatura esvaziada de palanques regionais.
Potencial futuro para adquirir densidade eleitoral a Tebet tem.
Antes do início da campanha a valer, pesquisas a indicavam ser desconhecida a 70% do eleitorado brasileiro.
Após a maior vitrine midiática nacional esse obscurantismo, fatalmente, foi reduzido.
Perfil pacificador, agregador, fala mansa e alinhada ao mercado, além de cara nova e suave ao eleitorado submetido a tal polarização que os periféricos apostam se dissolver em pleitos futuros.
Futuro, futuro.
“Na vera”, para outubro que está logo ali, Tebet ainda é mera figurante.