marcosthomazm
ECV- ENTRE A CRUZ E A ESPADA

No cenário de terra arrasada em que está mergulhado o Esporte Clube Vitória tenho visto muitos comentários superficiais atribuindo ao torcedor eleitor da “chapa da destruição” e ao processo democrático a responsabilidade pelo caos instalado, eu diria, entranhado no clube. Típico da obtusidade reinante nesses tempos.
Pois bem, esta tese rasa e reducionista não resiste a alguns contrapontos básicos, principalmente quando ampliamos o horizonte de observação sobre todo o processo, que nos trouxe até esta situação caótica:
1) APOIO A RICARDO DAVID- Antes de se revelar o estelionatário eleitoral já indicado nos primeiros atos da gestão e, hoje, consumado, o tal Ricardo David foi eleito por ampla maioria dos sócios. E, além do lugar-comum, pode-se atribuir uma série de fatores que convergiu para impulsionar o nome do dito cujo:
-A chapa de RD reunia em sua “carta programa” temas-anseios do torcedor (profissionalização do clube, gestão arrojada, fortalecimento de outros esportes como o basquete SIC etc). Tudo isso embalado em discurso bem articulado, perfil bem apresentado (típico de marketeiro de eleição de Conselho Regional, mas no momento, o mais "atraente" diante da embaçada visão do torcedor)!! Se, como se comprovou mais tarde, as “propostas” não passavam de engodo, sem nenhum detalhamento consubstancial, são “outros 500”, mas nada o desabonava à época...
-Outro poderoso ponto de adesão a Ricardo David era a rejeição a todos os outros candidatos, especialmente os históricos opositores reunidos em um mesmo chapão!?!? O impostor foi diretamente beneficiado pelo sentimento de negação as outras figuras já desgastadas por repetidas passagens pelo clube!
2) ATAQUES A DEMOCRACIA- Demonizar o processo democrático pela situação vivida pelo clube e ver esse discurso ecoar dentre os próprios torcedores comuns é de dar calafrios!! Toda mudança gera adaptação e a despeito do péssimo começo dessa experiência, o processo democrático nos permite mudar a cada eleição (como será feito agora, com antecipação, inclusive!). Somos um clube historicamente alheio a este processo aberto, com domínio centrado nas mãos de uns poucos e real dificuldade em consolidação de novos nomes/forças. Isso demanda tempo e estabelecimento do processo (essa afirmação nada tem a ver com insistência no erro- casos como o atual devem de fato ser abortados, mas trato da maturação do sistema de democracia do clube). Basta ver o exemplo do rival, que após décadas chafurdando na lama, vive POR VIAS DEMOCRÁTICAS o seu melhor panorama em muito tempo! Ademais, a opção real e única é deixar o clube nas mãos e sob total controle dos coronéis, como propôs explicitamente e nestes mesmos termos um “ex-dono do ECV”?? Sobre isso tratarei mais adiante...
Continuando a falar de Democracia... É bom ter atenção e senso analítico para não jogar absolutamente tudo na mesma vala. Com os nervos à flor da pele a capacidade de percepção escoa pelo ralo... Vejamos que, se no Conselho Diretor o “start” democrático nos lega duas catastróficas gestões em sequência, a mesma avaliação não pode ser transferida ao Conselho Deliberativo. Apesar das queixas e ataques diuturnos nas redes e grupos específicos de discussão do Vitória aos membros, pela primeira vez na história vi um Conselho sair da posição de figura decorativa. Mesmo engessados por um estatuto que condiciona aos conselheiros quase apenas “assistir enquanto o mundo explode”, de maneira inédita, houve publicação de manifesto contra a gestão, pedido público de renúncia, contingenciamento orçamentário e até rejeição das contas da gestão Ivâ de Almeida etc. Aos incautos, saudosos de um tempo romantizado (“quando o presente está nebuloso, o passado é sempre pintado em tons suaves”) lembro que o mesmo Conselho Deliberativo que dizia AMÉM aos desmandos de Paulo Carneiro, uma década depois aclamava, sem quaisquer questionamentos a reeleição de Alexi Portela. Esse era o modelo de conselheiros ideal e atuante??
3) EX-DIRIGENTES- Em meio as trevas atuais do ECV, nada mais natural que o pronunciamento e manifestação de figuras históricas do clube, assim como o clamor da torcida em torno desses nomes para “resgatá-lo”. E, talvez, “a toque de caixa”, de imediato, nem haja outra opção viável ao clube, senão a união desses “beneméritos” e pessoas com serviços prestados ao clube. A questão é, se realmente é honesto, com base em distanciamento temporal e decepção total atual apagar o passado, “dourar a pílula” e maquiar a história do clube nas referidas gestões de outros tempos?? Como se à época vivêssemos em “um mar de rosas” e não pudéssemos elencar uma série de pontos que nos fazia rejeitar a continuidade daquele referido modelo!?!?! Além disso, outro problema é a condução, ou oportunismo que esses estão fazendo da situação para ofuscar ou legitimar as próprias falhas de outrora. Vejamos:
-ALEXI PORTELA= Presidente mais emblemático pós ERA PC, Alexi Portela, carrega no currículo reorganização do clube, vice campeonato da Copa do Brasil, mas em paralelo rebaixamentos, papelões como patrocínio Champs e contratações que nem valem discorrer. Mas o que mais me espanta é vê-lo apontar o dedo a terceiros condenando-os pela escolha de Ricardo David a presidente. Ora, “o que me lasca é minha memória”. Lembro-me bem que David era Diretor de Marketing de Carlos Falcão, aquele atualmente rebaixado ao posto de segundo pior presidente da história do ECV. E quem colocou o tal Falcão lá, senão AP?? Puta mundo cíclico... Portanto caro Portela, você pode se autodenominar coronel, baluarte etc, mas não condenar a democracia por todas as mazelas, quando a gênesis do apocalipse foi desencadeada por seu poder ilimitado enquanto “coronelzinho da Toca!!”
-PAULO CARNEIRO= O maior presidente da história do clube sempre carregará em seu currículo algumas nódoas! Nos legou a maior parte do nosso patrimônio, feitos históricos em campo, orgulho exacerbado, mas também nos deixou na maior pindaíba de todos os tempos (atualmente caminha-se para igualar, mas...). Fomos pela primeira vez a série C, com funcionários sem receber salários há mais de ano. Após este episódio dirigiu rival, nos colocou na justiça, até voltar com a empáfia contumaz a participar e tentar influenciar TUDO no ECV. Pegando carona no entorpecimento nacional alguns ainda ensaiam chamá-lo de MITO, eu continuo a me referir a Paulo Carneiro, com toda a carga paradoxal que este nome carrega no ECV!!