marcosthomazm
Eu, coach de mim mesmo!

Três dias sem malhar após uma debilidade repentina de crise alérgica e resfriado, retorno a academia todo altivo.
Altivo e ativo, só na vontade, sendo honesto.
Enfadado, sem energias, mas perseverante.
A vozinha do bem dizia: “vai lá, Marcos, você é uma máquina”
“No pain, no gain”.
O lado obscuro da força sussurrava: “Relaxa, pô. Deixa esse negócio de levantar peso pra lá."
"Um pouco de salada, um pouco de drogas", balbuciava o diabinho.
Treino na resistência, saio de lá direto para o mercado onde escolho a saladinha de alfaces, cenoura, uvas, tomatinhos, salmão e afins.
Dale...
Ultra-mega-FIT.
Ben se agarra a um pedaço de pizza.
Resisto bravamente, de olho no projeto SAÚDE.
Mentira, roubo dois pedações da suculenta sovada de frango e maizena disfarçada de catupiry.
Mas, juro que esqueci daquela transgressão já no próprio mercado.
“Se não está na minha mente, não fiz.”
Aprendi em um vídeo motivacional.
-Fraude,grita o descrente.
Mas o quê desta teoria moderna de ensinar receita de sucesso para tudo não é cambalacho?
A fórmula mágica para tirar a vida de qualquer fracassado do limbo.
Para levantar sua moral, erguer sua auto-estima e todo esse bamboleio de falsidade emocional que cativa, fisga os vulneráveis.
De ficar milionário a ser mega happy, o felizão da hora...
E o melhor: tudo isso sem sair de casa.
“Seja alegre e ganhe dinheiro sem esforço”.
Seguimos pra casa, Ben devora a pizza, eu ajeito as coisas, como um bom pai, quase sarado, devo frisar.
Feito os afazeres sento para comer aquela deliciosa salada (e é boa mesmo, espetacular, claro, com sabor especial após ser recheada, extramente com dois sachês de molho mostarda).
Termino e sinto aquela saciedade oca (em tradução livre um vazio ainda ecoava no meu estômago).
Uma intuição gulosa me dizia que havia dois mistos no forninho.
Sigo para conferir apenas para matar a curiosidade.
Xeque-mate.
Diante da cena e iminente ameaça de desperdício decido comer um.
Ainda me doía ver o “gasto”, risco de jogar fora o segundo pãozinho recheado com queijo e presunto.
Resolvo a questão.
Empachado, quase arrependido, decido pensar positivo.
“Mentaliza que dá certo.”
Guiado pela máxima, resolvo ficar com a imagem da salada vistosa, frondosa, apetitosa e decorosa “nas vistas”.
Durmo leve, porém com a barriga inchada.
-O que importa é o que eu penso e acredito sobre mim- dizia o coach na TV!
Acordo com azia, mas pronto para mais um dia de auto-enganação, pautado nos ensinamentos modernos de êxito pessoal.
Se o oráculo da modernidade é um coach, a vida nestes tempos robotizados é uma estrada chata, modorrenta, sem curvas.
Uma Infinita Highway qualquer.
E a reta é solidão, como diria meu amigo Fábio Cascadura!