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O BURACO DA FECHADURA

rabiscos, escrevinhações, achismos e outras bobagens

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Eu e as coisas


Minha relação com seres inanimados sempre foi conturbada.


Tenho uma história de amor e ódio com itens, objetos triviais.


E, a despeito do que supõe o inconsciente coletivo, a recíproca deles para comigo é a mesma.


Objetos podem não ter vida, ou sentimento com vocês, mas comigo extravasam emoções.


E são sádicos, muitas vezes.


Isso vem de tempos.


Na minha remota infância, na bucólica Buerarema, havia uma caixa dos correios no passeio de uma rota no caminho de casa.


Tratava-se daquele "trambolho" suspenso por uma haste de ferro azul e que tinha um formato avantajado e amarelado com detalhes também em azul.


Ficavam expostas nas calçadas, passeios.


No caso, em Buerarema, na Avenida Paulo Portela, a “Avenida Paulista” das minhas lembranças.


Aos novinhos, que só conhecem os correios pela decadência e por campanhas de privatização, friso que essa era uma modalidade desburocratizante da época para envio de correspondências, digamos assim.


Depositada a carta na caixa, você poupava a ida a uma agência dos Correios, fila etc e tal.


Voltando a dita, a caixa bueraremense...


Bem, ela parecia estar fixa, apenas parecia.


Talvez ficasse estática na perspectiva dos outros.


Mas a mim ela perseguia.


Só não tenho provas mas, hoje isso não parece mais necessário, né? Virou tendência qualquer teoria estapafúrdia. Desavergonhadamente.


Nessa quadra da história atté a Terra é plana, enfim...


Fato é que, ainda bem garoto, recém saído da primeira infância, quase, diariamente, a “bendita” caixa vinha de encontro a minha cabeça, enquanto andava distraído, pensando nos gols feitos e perdidos, gudes tomadas e levadas, bronca materna a me esperar em casa pelo dia na rua...


De repente aquela pancada já conhecida, olhar fugidio para os lados, passada de mão sem graça “para não empolar”, como se dizia na minha terra, e nem um mísero pedido de desculpas, olhar arrependido da infeliz.


Minha mãe atribui daí algum desvario, somado a uma queda de trocador ainda bebê.


Vai saber?!?!


O que sei é que, da maldita caixa, eu conhecia em milímetros o diâmetro amassado.


Era a fôrma produzida por mim, mais especificamente, minha cabeça, de frente, ou de banda.


A exata medida do “galo” que ocupava minha moleira.


Nesta mesma cabeça sempre existiu um imã para quinas.


Há uma atração fatal e comum.


Daqui pra lá e de lá pra cá.


Nos buscamos, voluptuosamente.


Ainda pratico, involuntariamente, essa acupuntura forçada no quengo.


Vejam bem, dito tudo isto, devo registrar que não sou um desastrado padrão, ao contrário do que podem imaginar.


Não derrubo, ou quebro tudo ao derredor.


Pelo contrário, tenho bom senso aeroespacial nestes momentos específicos, com copos e afins.


Recebam um senso aeroespacial aí nas vistas.


Da relação, ao menos pacífica, com os copos deve ser a concentração e satisfação do ato de beber, se é que me entendem...


Mas sobre os desencontros com os outros objetos colocados “na hora e lugar errados” confesso minha enorme parcela de contribuição vivendo com a “cabeça no mundo da lua”.


Ando sempre a pensar em mil e diversas coisas, além do que me circunda.


Mas não esqueço minha cabeça em uma bandeja por aí.


Não estou a prêmio.


E o côco ainda está bem grudado no pescoço.


Aliás, não esqueço chaves, menos ainda perdi celulares, conforme alguns cidadãos da mesma estirpe e hábitos.


Tudo bem, tenho uma “relação vadia” com canetas, mas pode-se atribuir isso a um mal classista.


Profissional de imprensa sempre precisa e quase nunca dispõe de caneta. Faço jus.


Aliás, caneta e papel são dois dos meus maiores amores em termos inanimados.


Ainda hoje, em plena era high tech, não dispenso bloquinho de anotações.


Imprescindível.


Por falar em high tech, coisas sem vida, etc e tal, lá vem a tecnologia avançada atrapalhar minha rotina se fingindo de amiga e ampliando a minha confusão em relação a este “povo sem vida”.


Mas falo disso em breve, quando meu celular voltar do conserto forçado.

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