marcosthomazm
Eu não acredito em quem não xinga!

“ Vale tudo, só não vale dar o...”
A singela frase proferida por um atleta em êxtase após o título foi uma destas pérolas futebolísticas a viralizar.
O ano era 2006 e o atacante cruzeirense Gil extravasava em uma rádio para um repórter indignado:
“O cara falar isso em uma rádio católica? Absurdo...”
Ora, ora, cidadão, nem entro no mérito da postura do empolgadinho atleta, falta de compostura, normas de etiqueta etc e coisa e tal!
Primeiro, que vale dar o que quiser. Tem muita gente que gosta e tá de boa assim!
Segundo que, realmente é plausível se escandalizar com isso?
Algumas santas igrejas tem mais razões e atos internos a tratar, inclusive nesta causa, em seus “anais”, suponho.
Terceiro, que estamos tratando de FU-TE-BOL, goste-se ou não, um ambiente muito propício a “impropriedades” típicas assim.
A dita Rádio Cristã deveria saber os riscos de um “vivo” desta natureza...
Noves fora episódios lá de trás, “lá ele”, fato é que o campeonato paraibano, se não brilha nos campos, trouxe mais elementos a este universo folclórico de entrevistas indecorosas.
Para começar o passeio pelo paraibanão teve jogador chamando colegas de “rapariga”, longe, bem longe do significado aplicado em terras lusitanas.
“Jogando igual a uma rapariga. É f...!”
A última jóia local foi no jogo entre Botafogo x São Paulo Crystal.
O cidadão do time com nome de cachaça não se conteve ao narrar a epopéia de esperar cinco anos por uma oportunidade:
“Esperei pra c... por esta chance de jogar.”
Silêncio sepulcral na transmissão e complemento do mesmo espontâneo atleta:
“Tempo pacarai...”
Logo irrompem os indignados, patrulheiros da moral vocabular.
Aos puristas de plantão, nem vou entrar no mérito do juízo sobre uso destes termos impróprios no microfone, durante transmissão ao vivo, gravada, o que for.
Como profissional da imprensa e portador de algum senso, não o faço, obviamente, mas confesso me divertir com estas alopradas aleatórias.
Viva o povo brasileiro!
O que tenho convicção é de que não acredito em uma pessoa que não xinga.
Quem não sente a veia pulsar, o sangue esquentar, a pele ruborizar, os músculos latejarem e uma bolha de impropriedade se formar internamente, exigindo ser expulsa aos berros??
Ok, ok, comedida e cheia de bons modos há as pessoas que xingam por dentro, como dizia uma senhora evangélica conhecida.
Xingam por dentro, tento formar mentalmente esta cena...
Mas, xingam.
E o ato de xingar nem precisa ser direcionado a pessoa, aquele maldito, condenado, excomungado, miserável causador da raiva alheia.
Pode ser apenas a um objeto, coisa, vazio, abstrato, maldizendo até a sua própria inútil existência...
Vai saber?!?!
Mas, eu, xingo e gosto.
Não deixo as veias coléricas, irrigando ódio internamente, contaminando órgãos.
Tóxico demais.
Reza a lenda que é uma das causas de câncer.
Úlcera nem se fala.
Ao invés disso expila, exale, despeje, vomite essa ira represada.
Mas com elegância, em local apropriado e não direcionada.
“Endurecerse, pero sin perder la ternura.”
Porque ódio, rancor, também mata.
Às vezes, mais rápido até que a contenção do xingamento, afinal você pode por ódio matar, ou ser morto, literalmente, antes mesmo de qualquer doença se alastrar.
Portanto, vamos avacalhar com moderação!