marcosthomazm
Festival de Música da PB vive apoteose em noite de consagração

Arte não tem obrigação de ser engajada!
A questão não é engessar e limitar o produzir artístico.
Mas há momentos que, praticamente, se impõem, uns mais que outros.
Como canta o forrozeiro do Cariri, INEXORAVELMENTE, exigem manifestação do artista.
E qual palco melhor que um Festival de Música para isso?
Se juntarmos isso a época propícia em que nos concedem um festival de absurdos diários, então!?!?!
Esse foi o cenário absoluto, mas não uniforme, quiçá único, do 4 Festival de Música da Paraíba, finalizado nesta sexta-feira, 10 de setembro, no Teatro Paulo Pontes, na capital.
Diversidade de falas, vozes e mensagens de protesto.
Contundentes, sutis, explícitos, uns mais poéticos, outros nas entrelinhas...
Teve “de um tudo” nas festas, desde as eliminatórias, com 30 pretensos finalistas, dentre um universo de impressionantes 362 inscritos.
Empoderamento feminino, redenção dos povos originários, afirmação afroindígena, regionalismo, exaltação a terra, costumes, hábitos, flechada na xenofobia, resgate dos símbolos e cores pátrios e, claro, tudo confluindo contra o “desgoverno” nacional (desculpa a apropriação Tom Drumond, mas é por uma boa causa), um eco quase universal em quem produz pensar no Brasil hoje.
Ah, “eu também vou reclamar”, já dizia Raulzito, mas não tenho o estilo dessa gente fina, elegante e sincera.
Além das pautas mais sectárias, definidas, de movimentos históricos, teve também a tradicional e enraizada representação de manifestações típicas paraibanas, nordestinas como autênticos coco de roda, ou o “tratado paraibano musicado” de Elon, com "Paraíba, sou sim".
A Paraíba se afirmou em verso, prosa , símbolos e som...
Até o Porto do Capim, m arco zero da capital e, por consequência, de toda a Paraíba ganhou o seu libelo sonoro, na "panfletária" "Concretão", de Titá.
Teve ainda forró high tech de Aldo Mendes. Uma visão matuta sobre os recursos tecnológicos a uma palma da mão para tudo e toda hora. Postada ao vivo e sem cortes, ou edição.
Até interpretação literal, incorporação total de “doido”, mas quem é o doido aqui? Aliás, quem é o louco, mesmo? Quase em sintonia, outra canção, no próprio evento respondia: “vocês pensam que tô louco... e devo estar...”.
Como há de ser, não faltou a transgressão. E ela veio de quem não se poderia esperar convenções. Transpirando latinidade, em um ousado pagodão-brega-salsa, Totonho, acompanhado do inseparável mestre dos beats, Big Jesi, reuniu um time de 4 mulheres (As Cabritas) e espalhou energia no evento.
Teve rapper homenageando a paternidade das mães.
Até “caboclo da jurema” baixou no palco... não sei se “Você viu”, mas também teve prece a um Jesus Negro, lá mesmo sob os holofotes. E foi ele, João Carlos, que anunciou em meio a soul, rap, Black Music de primeira grandeza, pontuado por versos ferinos contra o racismo, anunciando que “a glória ainda vai chegar”. E chegou pra ele no mais alto estilo. Três prêmios, os principais da noite.
Esse universo rico e plural deu o tom do 4 Festival de Música da Paraíba, um evento que mobilizou artistas de todas as regiões do estado, estabelecendo em definitivo um circuito criativo e fortalecendo vínculos entre artistas locais.
Para coroar a festa e este ciclo frutífero da música paraibana, 5 prêmios foram entregues na grande final:
1 lugar- João Carlos (Você Viu)
2lugar – Totonho e as Cabritas (Pega o Beco)
3lugar – Tom Drumond (Desgoverno)
Melhor intérprete - João Carlos (Você Viu)
Votação Popular - João Carlos (Você Viu)