marcosthomazm
MORO E BOLSONARO- IRMÃOS SIAMESES

Há muito mais em comum entre Sérgio Moro e Jair Bolsonaro do que nossa vã percepção é capaz de associar... Não trato aqui das afinidades óbvias como a futura integração do mesmo governo, um na condição de presidente eleito, o outro de Ministro da Justiça escolhido pelo primeiro...
Os laços umbilicais que os une tem origem, ou ao menos se evidenciaram, no ANTIPETISMO! Antes da eclosão e propagação deste furor nacional contra a estrela vermelha, tanto Jair Bolsonaro, como Sérgio Moro, eram figuras públicas comuns, com atuação e relevância restrita aos respectivos ambientes. Para não ser injusto, vale frisar que eles não colheram os frutos do ANTIPETISMO sem qualquer esforço. Houve muito empenho direto de ambos na construção das próprias plataformas. A atuação engajada dos dois cumpriu papel fundamental também para fomentar este sentimento que se abateu em boa parte da população brasileira. Não foi apenas uso oportuno da imagem desgastada do PT!
O então deputado federal Jair Bolsonaro, inexpressivo e pouco levado a sério mesmo nas hostes do Congresso Brasileiro, teve muita sagacidade ao perceber que uma marola que se avizinhava ao longe, no horizonte, poderia se transformar em um tsunami para varrer os "comunistas" (sic) do país. Focado, investiu pesado neste discurso e de uma simples caricatura, imagem de aventureiro cômico foi alçado a condição de presidente eleito! No imaginário brasileiro é a figura que representa o maior antagonismo ao PT, esquerda, comunistas e toda sorte “desta gente pervertida” etc. Ninguém surfou nesta Big Wave melhor que o capitão!
Em outra frente, Sérgio Moro, então juiz de primeira instância, se tornou herói nacional para muitos pela condução do julgamento do “Caso do Tríplex”, que culminou na prisão do ex-presidente Lula. Muito além de qualquer conceituação jurídica sobre a condenação de Lula (há especialistas que não veem qualquer materialização e há os que defendem o parecer ipsis litteris), nem o mais ferrenho opositor do líder petista pode negar a seletividade e, no mínimo, controversa atitude do magistrado no processo (midiatização dos fatos, liberação de gravações para a imprensa em momentos pontuais, obsessão pelos crimes relacionados ao PT e quase desprezo pelas denúncias envolvendo outras agremiações e políticos etc). Após a atração dos holofotes, Moro já foi anunciado como futuro Ministro da Justiça, com trilha aberta para o alvo final: uma cadeira de ministro no Supremo Tribunal Federal com indicação do próprio presidente Jair Bolsonaro. Uma polpuda compensação pelo trabalho (afinal retirou do páreo a maior ameaça e líder disparado de qualquer pesquisa antes das eleições - e aqui volto a destacar que não entro no mérito técnico do processo, mas a celeridade dada a este inquérito, em contraponto a outros, e o desfecho oportunamente antes do pleito?!?!).
Assim, o ANTIPETISMO programático, muito bem ensaiado, o combate obsessivo ao PT (como se todos os crimes e males da nação fossem prerrogativa exclusiva dos vermelhos), catapultou dois ilustres desconhecidos ao Planalto, ambos ostentando a bandeira de combate a corrupção, representando no precipitado e superficial imaginário do brasileiro comum as figuras de redentores de uma suposta “Ordem e Progresso” de outrora! Apesar da aparente ação isolada de cada um, eles sempre caminharam juntos, miraram o mesmo alvo e, agora entrelaçados, concretizam o objetivo juntos.
Pois bem, quis a história, esta sombra implacável e traiçoeira, que a latente diferença entre discurso e prática também fosse elemento de união entre o par, Bolsonaro e Moro! Se, por um lado se colocam e são içados por milhões a condição de bastiões da moral e bons costumes se eles usam todo espaço para bradar contra a conduta imprópria de outros, em contraponto a tudo o que apregoam, ambos se valeram e tentaram defender em público o uso indevido de AUXÍLIO MORADIA.
Antes da saraivada de criticas e impropérios dos que tentam contemporizar todos os malfeitos dos “queridinhos”, adianto que sim, é indevido recurso recebido para determinada destinação, mas que teve finalidade desviada!
Sérgio Moro e Jair Bolsonaro possuíam residência própria nas cidades onde eram “lotados” a época dos recebimentos (o primeiro na capital paranaense, sede oficial da República de Curitiba, o segundo na capital federal, Brasília)!
Ah, mas alguns vão sustentar que não configurou ilegalidade o recebimento dos “extras’. De fato, mesmo que para Moro o AUXÍLIO MORADIA fosse um “complemento de um salário defasado”, segundo o próprio, e, para Bolsonaro, um recurso utilizado para “comer gente”, como vociferou em declaração a uma repórter. Por mais que a ação aos olhos da justiça seja considerada legal (no caso do juiz, o próprio STF estendeu o direito da usufruto do benefício a todos os magistrados com a mesma alegação salarial), ela é, no mínimo, amoral, fora dos padrões de conduta probos, que ambos sempre alardearam. Seja no sentido de apropriação pecuniária literalmente exposto pelo ex-juiz, no antropofágico, canibalístico ou pouco pudico do ex-parlamentar... nas duas situações, os próprios escancararam, que se valeram de recursos públicos sem precisarem deles para o que eles eram destinados. Nos dois univitelinos casos deram demonstrações explícitas de nenhum zelo com o erário público. Nas duas geminianas ações deixaram exposto que se sentem “soberanos”, senhores para interpretarem direito próprio que consideram adequado a assistí-los, além de qualquer dispositivo externo.
Se você, cidadão comum, além de qualquer conceito jurídico de infração, relativiza ou considera normal a postura de ambos nos episódios do recebimento de “auxílio moradia”, sugiro rever os seus critérios de corrupção, ou conjunto de valores, além das próprias conveniências. Afinal toda mobilização e indignação coletiva eram sobre benefícios indevidos, abuso de poder e autoridade etc. Ou os malfeitos e crimes só chocam quando manchados de vermelho?? O Brasil virou uma ilha de daltônicos!!