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O BURACO DA FECHADURA

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MUITO ALÉM DE BALAS E CANGAÇO – Lampião e a música


Poucas coisas são mais sugestivas ao imaginário comum sobre o Nordeste do que o cangaço!


E falar em cangaço é diretamente tratar do seu mais ilustre representante: Lampião, líder do maior, mais longevo, aterrorizante e desafiador bando que passou pelas bandas do Nordeste brasileiro!

Mas, mais indissociável ainda, é mencionar Lampião, sem citar o seu grande amor, companheira de vida e batalha, Maria Bonita! A moça que largou casamento para seguir seu “grande amor bandido”, com trabuco em mãos, “até que a morte os separe”! E assim aconteceu, em uma adaptação marginal desse mantra cristão, foram mortos juntos, assassinados na caatinga sergipana, em 28 de julho de 1938, há exatos, 82 anos...


Você pode perguntar o que isso tem a ver com música?? Eu digo que tudo, mais que música, muito além de balas e cangaço, Lampião é a maior representação cultural do Nordeste, ao menos a mais difundida!


Os símbolos culturais nordestinos se apropriaram de elementos do bando de Lampião em todas as manifestações artísticas locais:



Cinema com os filmes de Glauber Rocha, Lima Barreto, literatura em vários momentos do romance regionalista e afins, foi o principal personagem das histórias de cordel em todos os tempos, pintura, xilogravura, teatro, artesanato, souvenirs diversos e claro, música!


Basta lembrar que o primeiro fenômeno de massa do Nordeste para todo o Brasil, a primeira e, ainda hoje, mais impactante figura musical da história da região se travestia, caracterizava como um integrante do bando de Virgulino Ferreira da Silva.


Luiz Gonzaga, o rei do Baião era um devoto do rei do cangaço. Desde novo nutria uma fixação na figura quase mítica de Lampião, pois além do destemor do líder o atraía a fama de tocador de sanfona de Lampião.



A admiração de infância ganhou traços nas vestimentas do velho Lua, que gravou pelo menos uma dezena de músicas falando do cangaceiro mais famoso: “O Embaixador do sertão”; “Lampião falou”; “Era besta não”; “Acorda Maria Bonita”; “Mulher Rendeira” etc.


Essa última canção, aliás, é envolta em muita controvérsia. Alguns afirmam tratar-se de composição do próprio Virgulino Ferreira. Outros negam e dizem tratar-se de cancioneiro popular. Fato é que “Mulher Rendeira” foi gravada no disco “Cantigas de Lampião”. Este trabalho de 1957, é o primeiro e único registro do ex-integrante do bando de Lampíão, conhecido como Volta Sêca. O trabalho foi lançado após o cangaceiro cumprir 20 anos de prisão por suas contravenções ao lado do líder. São 8 músicas passeando por xaxado, xote, baião, toada.


Para abordar as menções a Lampião na música brasileira seria necessário fazer um profundo mergulho na discografia nacional, mas apenas para pontuar, há registros na obra de Jackson do Pandeiro, Marinês, Zé Ramalho com a quase balada sertaneja “Mulher Nova, Bonita e Carinhosa”. Até o carioca multifacetado Sérgio Ricardo, que nos deixou a poucos dias, prestou sua observação sobre o fenômeno do cangaço na música “Perseguição - Sertão vai virar mar” , que foi trilha do clássico do Cinema Novo “Deus e o Diabo na terra do sol”...


De tempos mais recentes, nada mais emblemático nesta releitura da história nordestina, do que o vôo rasante de Chico Science pelo cangaço: “Sangue de Bairro”, “Banditismo por uma Questão de Classe” (“acontece hoje, acontecia no sertão, quando um bando de macaco perseguia Lampião”)...


Entre feitos em vida e lendas mitificadas sobrevive perene a aura de Lampião e do cangaço, cristalizada nos símbolos e quase se confundindo com a própria história do Nordeste... sobre agruras e luta de classes ao heroísmo subversivo!

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