marcosthomazm
O AMOR NOS TEMPOS DE MATRIMÔNIO

Acho que eu nunca contei isso, nem a ela.
Mas, certo dia, daqueles mimizentos, em que estamos todos melados, digo melosos e cheio de amor pra dar (lá ele)...
Enfim, aqueles dias em que você se sente o último romântico e, singelamente, começa a escrever uma inabitual mensagem pegajosa, cheias de guti guti.
Alto lá, não venham os patrulheiros da emoção alheia, normatizadores do amor me acusarem de insensível!
Não é que eu não tenha arroubos românticos. Olhe que até me considero...
Tenho minhas declamações aqui e acolá, acho até que sou meigo nas dedicatórias amorosas, mas neste dia era um impulso além, mesmo.
Coração palpitava por declarações abertas, mais intensas.
Momentos de amor, Toque Love, Cartinhas do coração...
Lá estava eu, rabiscando, digo digitando no celular...
Ah, espera aí. Você também não estava imaginando que eu usava um papel de carta aromatizado para manifestar meu romantismo, né?
Vamos derreter corações, mas manter a dignidade, jovens...
Eis que, em meio a esse derrame de emoções, de repente, abruptamente ouço aqueles acordes...
Instantaneamente o amor brochou.
Era Jota Quest, em alto volume, ressoando da janela do apartamento vizinho.
“Não alimento amor por telefone, isso é ilusão...”
Um baixo-astral me retorna as piores lembranças dos últimos 20 anos, sei lá.
A música é impressionante.
Do mesmo jeito que tem a capacidade de nos transportar no tempo em êxtase, trazendo, fidedignamente, sensações e até aromas de tempos outros, também causa a mesma intensidade no inverso.
Sabe aquela bad trip em que você se meteu? Sempre terá uma música medonha a embalar essa trilha!
Pois bem...
“pra que tanto telefonema?? Se o homem inventou o aviãããão... pra você chegar mais rápido ao meu coraçãããããããooo!”
Tudo isso embalado por aquela voz nauseante, digo anasalada do Rogério Flausino e suas extensões vocais em vibração esganiçada.
Veja bem, nem tenho esta antipatia total pelo Jota Quest. Há coisa bem mais insuportável por aí.
Os mineiros até apontavam proposta interessante, originalmente, mas depois que descobriram a fórmula do sucesso em refrões medíocres...

Voltando ao meu momento, eu desisti da declaração de amor convencional e apenas mandei para a amada a foto com a pia limpa, cama forrada e casa brilhando.
Ela disse “eu te amo e que sou o homem da vida dela”.
Flechada certeira do amor. Cupido passou lá em casa.
Mandei Jota Quest, “fácil, extremamente, fácil” lá pro raio que o parta, catei pano, rodo e outros apetrechos e fui limpar o banheiro.
Haja amor!
À Denise, minha namorada de sempre, até envolto sob aroma de pinho-sol!