marcosthomazm
O Brasil é um país totalmente meio Free!
Atualizado: 22 de mar. de 2021

“A partir de amanhã o estado do Piauí passará a contar com Lockdown Parcial” narrava a repórter local no Jornal Hoje, aquele mesmo, tradicional noticiário vespertino da Globo.
Apesar da natural estranheza que a fala causa aos ouvidos, como bom brasileiro, passou longe de me causar espanto.
A incredulidade maior, talvez, e eu disse talvez, resida no fato de tratar-se de um texto jornalístico!
Não basta o modismo nacional de incorporar, integralmente, cada vez mais os termos estrangeiros. Precisamos embaralhar as línguas e, mais que isso, misturarmos termos “in engRish” e português, com sentidos quase antagônicos, entre si.
É o folclórico jeitinho brasileiro na sua versão avacalhadora em modo turbo...
Lockdown é um termo absoluto, fechado, definitivo, sem brechas ou espaço para flexibilização que traduzido, literalmente, significa bloqueio, fechamento, restrição de acesso!
Mas eis que a brasilidade permite manipular o vocábulo ao bel prazer libertino tupiniquim e mete logo um “parcial” na emenda.
“Lockdown parcial”, uma verdadeira delícia tropical.
E, pior, utilizado em caráter técnico da atividade jornalística, na principal e mais assistida emissora do país.
Alô Bonner, quebraram o manual da redação “globolístico”!!
Mas falar em esculhambação os exemplos saltam aos montes neste brasilzão lambuzado de esbórnia.
E olha que nem precisamos nos ater as corruptelas lingüísticas.
Na comilança somos experts em “azedar” a receita alheia.
Brasileiro faz de um cachorro quente, um X-tudo. Tem lugar com purê de batata, aqui nas bandas da Paraíba vai carne moída e há localidade que nem salsicha tem?!?!
O pobre do sushi, iguaria milenar japonesa, aqui ganha adaptação robusta, empanturrada de todo tipo de queijo, mergulhada no óleo, falta apenas colocar barbecue, ou pelo menos nunca vi... ainda...
A nossa pizza é um fenômeno a parte. Centenas de recheios diferentes, alguns tipos com quase esta centena de opções dentro, juntas e misturadas, em uma gororoba gourmet, salpicada de catchup, maionese e mostarda.
E eu? Amo muito tudo isso, não nego as origens.
Mas voltando ao vernáculo, antes que a fome bata e um rodízio destas guloseimas me chame...
Fato é que estes últimos tempos fariam, se vivo, o gênio Ariano Suassuna se estribuchar. E olha que tenho minhas ressalvas sobre radicalismos, excessos analíticos dele quanto a hibridismo, troca, imperialismo cultural etc e tal. Mas nesta medida, o mestre paraibano teria total razão.
Além do “Lockdown Parcial” lá do Piauí a pandemia nos importou termos gringos como Take out.
Vejam só, duas palavras, outra língua e sete letras para representar uma de apenas cinco letras e idêntico significado em português: Tirar, ou Retirar.
O termo não sai da boca dos gestores ao anunciarem decretos, ou de profissionais da imprensa ao fazerem a cobertura destes.
Se somou ao já normalizado e, porque não, abrasileirado Delivery, que também já tínhamos no léxico (tomem um léxico na caixola) e significa nada mais que entrega...
É como eu sempre digo, vamos acanalhar a brasilidade, mas mantendo o mínimo de dignidade, né??