marcosthomazm
"ONDE O FILHO CHORA E A MÃE NÃO VÊ"

A “bola da vez” no discurso político nacional, há algum tempo, é a necessidade de ajustes nas contas públicas. Isso, como em qualquer reequilíbrio fiscal, seja na nossa casa, no escritório, ou na firma, passa fundamentalmente por corte de gastos, estabelecimento de prioridades etc. Até aí suponho não haver divergência! A questão central é que a pauta de reajuste das finanças no governo federal do jeito que está sendo empreendida segue a máxima histórica de “estourar do lado mais fraco”. O que já vem em execução e se desenha amplificar no próximo governo é um completo desmanche de políticas públicas essenciais.
A nova facada corta na carne o Programa Mais Médicos. Mais de 8 mil cubanos, que atuam nos lugares mais recônditos e que, via de regra, são destinos rejeitados pelos profissionais brasileiros, estão de malas prontas para voltar ao país de origem. Apesar de tentar imprimir nova roupagem nos argumentos utilizados para aplicar uma série de exigências aos cubanos, o presidente eleito, na prática fez o que alardeou ao largo durante a campanha: iniciou o seu processo de perseguição aos “vermelhos, comunistas, a esquerda mundial etc”. A quem vivia a mandar seus opositores irem para Cu...ba, nada melhor que começar pelos próprios cidadãos da ilha... O curioso é que o Sr. Bolsonaro acusa o programa de ter viés ideológico, mas o próprio age com total partidarismo, mesmo que esta medida esteja representando na essência o desmantelamento a assistência básica de saúde nacional e deixando ao léo mais de 60 milhões de brasileiros, que muitas vezes tem apenas este serviço ao dispor!!

O presidente eleito questiona a capacitação dos médicos cubanos, mas desinformado como de praxe, ou apenas com a má fé habitual, ignora que o país caribenho tem médicos servindo em mais de 60 países, há várias décadas, é referência mundial na atenção primária de saúde, possui uma das menores taxas de mortalidade infantil do MUNDO (isso na prática, não baseado no modelo único de saúde bucal do próprio Bolsonaro). Ele também critica a porcentagem da repartição do valor pago entre o governo cubano e os profissionais. Ora, os médicos são servidores do Governo cubano e se voluntariam para vir ao Brasil, conhecendo as bases contratuais. Ademais, o próprio Bolsonaro já disse: “mais direitos e desemprego, ou menos direitos e mais empregos??” Mas, em todo o seu senso humanitário e igualitário está preocupado com a situação dos “irmãos cubanos” e quer meter o bedelho nas relações de trabalho de outras nações??
Voltando ao Desmonte Geral, vale lembrar que no ano passado o governo Temer praticamente asfixiou o sistema de fiscalização do trabalho escravo no país. Cortou 70% da verba destinada a estas operações no Ministério do Trabalho. A Organização Internacional do Trabalho ainda considera o país uma área de alta incidência dessa bárbarie. E acreditem, este bizarro fenômeno de posse sobre outro ser humano ainda é bem mais recorrente no nosso país do que se pode imaginar...
Ah, o mesmo governo atual, ainda em 2017, também cortou 90% da verba destinada a creches de todo país, dentro do Programa Brasil Carinhoso!! Em contraponto a mesma agenda de austeridade financeira desprezou índices econômicos para contemplar setores como ruralistas, banqueiros e grandes conglomerados com anistia bilionária de débitos. Também promoveu um inchaço ainda maior da máquina pública com aumento de quase 20% com custeio da folha de pessoal!!
Mas estes setores abastados tem voz e canal de divulgação para reivindicar seus direitos e se fazer ouvir! Já aos explorados em analogia a escravidão, as mães sem local para deixar os filhos e trabalhar, ou aos interioranos usuários do parcos recursos das Unidades de Saúde da Família resta o grito dos excluídos, aquele brado distante, de um povo que tende a ser esquecido, mas teima em resistir, sempre...