marcosthomazm
PERDIDO NA RUA DA AREIA (Um Salve ao Centro Histórico de João Pessoa)

A gestão das lavagens de roupas em casa é responsabilidade minha! Com esta atribuição nas costas ficar sem máquina de lavar, nem pensar... Eis que o nosso aparelho teve uma pequena avaria. Como em tudo, gosto de procurar primeiro as coisas no meu próprio bairro, os Bancários (aquela coisa de movimentar a economia local, valorizar os serviços próximos etc), mas o destino me reservava uma divertida e prazerosa história (vocês entenderão mais a frente).
Primeiro vou a uma loja de material de construção, que me indica uma outra especializada em máquinas de lavar, também no bairro. Nenhuma das duas dispõem da peça que eu buscava, mas a segunda me indica o caminho da salvação, digo da perdição: “amigo você vai encontrar o que procura na Rua da Areia, loja Proclímax.” Isso mesmo, ele disse em alto e bom som: PROCLÍÍÍÍMAX!!
Quem conhece minimamente João Pessoa sabe que a Rua da Areia é um tradicional reduto de mulheres de família, recatadas e do lar. Um logradouro secularmente e quase inteiramente dedicado a servir ao próximo! Uma verdadeira e legítima Alameda do Prazer!! Imagina então neste ambiente um lugar chamado de PROCLÍMAX?? “Tem certeza que é de máquina de lavar que estamos falando, meu caro??”. Pensei, mas me contive e não fiz gaiatice com o prestativo senhor...
Pois bem, focado, determinado, obstinado a manter as roupas e minha barra limpas em casa, lá vou eu na melhor e mais pura das intenções ao território do desejo! Antes de concluir esta epopéia, derivo de novo...
Confesso que tenho relativa intimidade com este quase beco, fruto de aventuras de outrora! Calma lá, maliciosos, a minha relação com a Rua da Areia na verdade tem origem um pouco mais adiante geograficamente. No não menos secular e ainda mais histórico, Largo de São Pedro, localizado a coisa de 50 metros de uma ponta da famosa rua. Dentre outros atributos, o Largo ostenta o Pôr do Sol mais bonito desta e de outras galáxias (esqueça o Jacaré e Jurandy, aquele do Sax), através do quintal mágico do antigo hotel Globo e sua vista exuberante para o Rio Sanhauá.
Foi imerso neste paraíso, que junto a amigos, mantive um espaço de shows e rock, música alternativa e independente e rock e mais rock etc. Tempos de muita ralação (labor mesmo, mentes sujas), um pouco de esbórnia claro, nascedouro de amizades, muito som e dureza, claro. Afinal diz a máxima “quem tá no rock é pra se fuder...”! Lá vem o trocadilho de novo... Que seja! Como diria o Simão: "Nois sofre, mais nois goza".
Chego a Rua da Areia passo pelas cada vez mais decrépitas, gastas, castigadas fachadas das casas de tolerância e sigo em frente a procura do clímax, digo da loja Proclíííímax! Cerca de 300 metros após o começo da rua está a loja, um isolado prédio bem conservado e com pintura em dia, raridade naquela redondeza. Fachada discreta, diferente do letreiro luminoso que confesso ter projetado mentalmente. Enfim, me dirijo a primeira atendente: “ Moça vocês aqui na Proclíííímax são representantes autorizados da...”. Interrupção abrupta: “Proclimaaaaaax, senhor.” Assim mesmo com ênfase tônica na última sílaba. Sem me deixar abater, ainda, insisto: “Sim. É que um dos “pés” da minha máquina quebrou e me indicaram a Proclííímax como autorizada da...”. Nova advertência da impaciente moça: “Senhor, o nome da loja é Proclimaaaaax.“.
Tom imperativo. Repreensão broxante. Tão seca quanto as roupas saem destas modernas máquinas de lavar atuais, a funcionária acabou com a fábula, quebrou a magia da história baseada no trocadilho! Eu, impotente, sem clímax, digo clima, encerrei minha jornada também me esquecendo de comprar o tal item para a máquina de lavar! Na saída, uma placa quase apagada em uma casa em frente sugeria: Relaxa e goza! Nem biscoitinho da sorte chinês concorre com a sabedoria da Rua da Areia....