marcosthomazm
QUEM DÁ MAIS, QUEM DÁ MAIS??- O voto cristão como um dízimo eleitoral

Se Bolsonaro fechou o primeiro turno comemorando trunfos com larga vantagem em maior quantidade de eleitos no Congresso, Lula abriu o segundo turno celebrando apoios mais relevantes à disputa.
Logo surgem os apaixonados elencando o fato de Bolsonaro ter conseguido apoio dos governadores eleitos em dois dos maiores colégios eleitorais do Brasil, além do terceiro colocado no “mar de gente” paulista...
A questão é que, não se tratou lá de apoios novos. Ambos já representavam o Bolsonarismo contra candidatos petistas nos respectivos estados: Romeu Zema em Minas e Cláudio Castro no Rio de Janeiro.
E foram eleitos com sobras, mas qual será o real nível de engajamento de ambos agora, com cadeira garantida?
Zema até tem ocupado imprensa nacional, reafirmado seu alinhamento econômico com Bolsonaro, mas e o corpo a corpo, os eventos de rua e mobilização popular?
As “Gerais” representam o território mais estratégico e simbólico da disputa presidencial.
Minas é um microcosmo nacional.
Radiografia quase idêntica a nacional em recortes como perfis por sexo, etário, divisão de classes etc, além do fundamental: quem vence em Minas, vence no Brasil, desde sempre!
Apoios incontestavelmente importantes, mas repito, não recentes. Teriam real impacto em mudar votação nestas bases?
O terceiro reforço a campanha bolsonarista, este sim novo, é o mais controverso: o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia.
Primeiro, com a máquina não conseguiu sequer chegar ao segundo turno, retirando a legenda do páreo, após 30 anos ininterruptos.
Segundo, o voto tucano em São Paulo, pertence bem mais ao PSDB do que ao pouco expressivo Rodrigo Garcia.
E, partidariamente falando, Lula ficou com apoios bem mais expressivos da cúpula pessedebista.
Lideranças regionais, José Serra e até o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declararam, publicamente, reforço a campanha petista.
FHC apoiando Lula após 32 anos (também o fez, com o PSDB em bloco, no segundo turno de 1989).
FHC, que foi o primeiro político apoiado por Lula para mandato eletivo na história, ainda na década de 80.
Icônico.
Mas os mais robustos apoios a campanha petista vem daqueles que acumularam capital de votos no primeiro turno.
Foi o petista quem recebeu reforço, exatamente, do terceiro e quarto colocados, que somados representam mais de sete por cento dos votos no pleito.
Se o apoio de Ciro foi tímido, quase velado, como esperado, o PDT, seu partido, foi categórico e se movimentou em bloco em direção as hostes petistas.
Mas nada, absolutamente nada, mais relevante como apoio neste segundo turno do que a manifestação de Simone Tebet.
Maior vencedora deste pleito, fora o presidente eleito, de fato, claro.
Candidata que surgiu desconhecida de 80% da população, lançada no apagar das luzes e que terminou com assombrosos 5 milhões de votos.
“Mas o MDB declarou neutralidade, liberou seus filiados a votar em quem quiser...”, grita o agourento.
O MDB não esteve unido, sequer em prol da candidatura da Tebet, do próprio partido!!
No Nordeste, por exemplo, a própria legenda não deu um único palanque a correligionária.
Vão exigir unidade agora?
Ademais, os votos, no caso, são trunfos exclusivos de Simone, um oásis que surgiu na aridez emedebista. Sem quadros de destaque nacional, apenas se sustentando na estrutura e capilaridade do próprio partido.
Mas, bem além das tradicionais costuras políticas, o maior alvo da cobiça por apoio foi na comunidade cristã.
Desde que Bolsonaro inaugurou a Guerra Santa no Brasil, com este discurso falso moralista de bem contra mal, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (perdão Glauber), a Jihad nacional transformou templos em arenas sangrentas de ódio e intolerância.
Logo no começo do segundo turno a campanha de Lula, no instinto eleitoral, foi atrás dos votos cristãos e se instalou, em definitivo, a batalha da falsa moral ocidental.
Lula constantemente atacado como inimigo do Cristianismo (desprezando-se o fato de que ele decretou a Lei da Liberdade Religiosa, nunca fechou igrejas etc) reagiu e expôs Bolsonaro na maçonaria, bode preto, pai veio, demônio chifrudo e por aí vai.
Os fanáticos da seita evangélica do Triângulo Quadrado da Terraplana Messias Bolsonaro se reviraram, ficaram possuídos, digo possessos...
Nem em plena celebração da padroeira do Brasil, no santuário de Nossa Senhora Aparecida os devotos se comportaram.
Vaiaram o Arcebispo porque ele falava de necessidade de combate a fome.
Fome, esta narrativa "mimizenta" de comunista, esquerdalha...
Agora é só ladeira abaixo... a coisa descambou para essa improdutividade narrativa e hipocrisia geral, que os bolsonaristas tanto adoram e embaçam a visão da geral para o que realmente importa: projeto de governo.
Dito tudo isso, em meio a este deserto de ideias, completo abismo conceitual, gritaria e dedo lá naquele lugar, mais uma vez estaremos a mercê do voto da negação para a maioria dos brasileiros.
O que vai decidir as eleições será mais o anti-bolsonarismo, ou anti-petismo do que adesão a um lado, ou outro.
Que saibamos ao menos negar.
Rejeitar em absoluto o que é mais repulsivo, inconcebível e ameaçador a democracia e futuro nacional.
“Deus tenha piedade dessa nação”, já dizia o profeta de muitos “cidadãos de bem”, Eduardo Cunha.
Sai pra lá, coisa ruim.