marcosthomazm
UM ALTO FALANTE PARA OS CANALHAS (A CAIXA DE RESSONÂNCIA DA IGNORÂNCIA)
Atualizado: 4 de out. de 2018
Sou do interior baiano. Tabaréu criado na remota Buerarema (não é a Macondo do Gabo, mas é a minha Macuco). Na paisagem da minha infância/adolescência, como de todo “minino” de cidade pequena, um mundo de folclores e figuras emblemáticas. Uma coisa característica no universo interiorano é a estigmatização. Uma forma de alcunha atribuída a alguma pessoa com base em características estabelecidas pelo senso comum. O tal apelido, que invariavelmente se incorpora como um visgo ao nome de registro. Assim em uma espécie de carimbo, inscrição na testa, o cidadão carrega um "chamamento" que muitas vezes se impôe ao próprio Codinome. É um tal de Toin Cotó, Zé Tetinha, Bafo de Bode, Eli Tigresa e por aí vai. Dentre estas “personalidades clássicas” do imaginário do matuto existe a fofoqueira. A tradicional FIFI, LÍNGUA SOLTA, FUTRIQUEIRA etc.
Basicamente toda rua/beco tinha a sua fofoqueira para espalhar notícia, distorcer situação, ou simplesmente inventar caso pelo quarteirão. Eis que em “TEMPOS VIRTUAIS” essa personalidade bizarra se proliferou mais que bactéria! Umberto Eco já alertava que a internet havia dado voz a uma “LEGIÃO DE IMBECIS”. As redes estão infestadas de ignorantes “especializados” em quase tudo! Mas além da vergonha alheia com as “abalizadas” análises individuais sobre política ou física quântica, a impressão é que a sensação de segurança e “meio anonimato”, por estar atrás da tela de um computador, desvelou a faceta de milhões de sedentos pela maledicência, desonra alheia. Parece um sádico prazer coletivo em difamar, desconstruir a imagem, moral, ou o que for, do outro!
A naturalidade e constância com que se repassam informações absurdas demonstram que não há diferença de caráter, de princípios entre aquela “fofoqueira analógica” e este “linguarudo digital”! Lógico, em muitos casos se trata apenas da necessidade de referendar seus pensamentos, suas escolhas, acreditando naquilo que convem, o que não deixa de ser um desvio de personalidade. Afinal, se valer do ataque a alguém para se sentir melhor, ou legitimar suas idéias, não é nada nobre. Assim, sem qualquer pudor, diariamente, homens e mulheres, declarados defensores da “família e bons costumes”, bons samaritanos cristãos, dentre outros, replicam as tradicionais “FAKE NEWS” sejam elas apenas algum trote de péssimo humor, uma orquestrada ação difamatória contra alguma personalidade pública, ou a desconstrução de conceitos históricos... É a amplificação da maledicência!
Como esquecer da ofensiva, abominável série de ataques, a honra da vereadora Marielle Franco, este ano, logo após a sua execução a tiros no Rio de Janeiro! Insuflados pela aversão ao fato da parlamentar ser de uma legenda de esquerda e ativista dos direitos humanos, todo este “povo de bem” ajudou a propagar uma covarde teoria de que ela teria um caso com um traficante carioca, inclusive repassando uma foto falsa da vereadora junto ao suposto amante. O exemplo em questão independe de afinidade com qualquer bandeira ideológica, mas é uma fidedigna ilustração do quanto a leviandade está entranhada na sociedade, especialmente contra aquele que representa o pensamento ou ação oposto ao que você defende. Aí entra o valetudo...
“Senhor, piedade! Pra essa gente careta e covarde...”