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O BURACO DA FECHADURA

rabiscos, escrevinhações, achismos e outras bobagens

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  • Foto do escritormarcosthomazm

Um país mergulhado em rastro de cobra

Atualizado: 22 de jul. de 2022


Eu captei o estalo.


Não tenho o tal ouvido absoluto, mas enquanto a catarse tomava conta da coletividade, eu conseguia ouvir as fissuras se abrindo na casca.


Lenta mas, estrepitosamente, as rachaduras iam se alastrando, contornando aquela estrutura oval.


Também não possuo dons sobrenaturais, mas aquilo estava clarividente aos meus olhos humanos.


O ovo da serpente sendo chocado!


Era 2013. O país fervia.


Grupos organizados convocavam a massa.


A imprensa alardeava um cenário caótico, interrompendo a programação, diuturnamente, para mostrar as ruas pulsantes.


"Atenção, atenção!"


O sistema financeiro em polvorosa.


"Pato aqui pato acolá"


De repente vinte centavos foram inflacionados vertiginosamente... transformaram-se no rastro de pólvora para uma eclosão social.


Das passeatas a quebra-quebra foi um pulo.


Black blocks na esquina.


Encapuzados, vândalos, de cara lisa, pacíficos, aventureiros, “maria vai com as outras”, “não sei se vou, ou se fico”, todos juntos e misturados.


Muitos conscientes, outro tanto teleguiados.


Mas a “geral” seguiu engajada para livrar o país de algo...


Era gente procurando víbora mitológica, enquanto cascavel serpenteava por entre suas pernas.


Já eram ecos do futuro sobre uma tal ameaça comunista, fantasma vermelho e toda esta patifaria.


“A culpa é do Petê’, dessa balbúrdia, minorias e afins.


À época aquilo já “não me cheirava bem”.


Lembro que fui, inclusive, questionado por amigos próximos acerca da minha omissão nos tais protestos.


Colegas de esquerda se juntavam aos de direita, com os de centro no meio, isentões no bolo.


Todo mundo se voluntariando de marionete para um objetivo outro, além das próprias mãos e intenções.


E os abutres, oportunistas, semeadores daquele colapso assistindo de camarote e incensando, despejando veneno.


A mídia registrava tudo, em cima do lance, participando ativamente do “movimento”.


A repórter perguntava a jovem por que ela estava ali?


-Pelo Brasil- respondia, abstratamente, mas de punhos erguidos, imprimindo algum ar de convicção a uma resposta completamente vazia.


Na sequência um senhor com cenho franzido, olhos fumegantes, quase descontrolado, é questionado sobre o motivo pelo qual protestava:


Espumando pela boca esbravejava:


-Para mudar tudo que está aí.


Como se “tudo que está aí” fosse um processo novo, de responsabilidade de um, dois, ou grupo específico e não um problema endêmico, estrutural, histórico brasileiro.


Claro que a crise econômica, falhas, até crimes petistas incomodavam de répteis a anfíbios e mamíferos.


Mas vamos condenar uma "espécie" apenas pela catástrofe que se desenhou na natureza tupiniquim?


Típica reação de manada, atrás de respostas fáceis, desembocando em radicalismo, soluções superficiais, forçando mudanças extremas, rupturas burras, gestos obtusos.


Foi assim que nasceu mais uma vez o novo Brasil!?!?


"Ame-o ou deixe-o".


Um “museu de grandes novidades”.


"Vamos exterminar a petralhada".


Emergiram redentores, sempre travestidos de patriotas.


Desceram do céu, como Messias, salvadores da pátria.


Como se, contrariando o dito popular, Deus tivesse dado asas a cobra.


E você comeu o fruto proibido.


Caiu de boca na fábula.


Ressuscitou até demônios fardados de outrora.


Intervenção, AI-5, fechamento de Congresso, demonização absoluta da política, já gritavam os alienados, à época.


A ordem era “chutar o pau da barraca”, desmontar tudo, romper com as estruturas...


Qual era mesmo o método, a estratégia para superar aquele cenário?


Nada, só radicalizar.


Prato cheio para a “urubuzação política”.


Ali a serpente chacoalhando já rastejava.


Dilma deposta.


Oba, nos livramos das pedaladas.


Petê fora do poder, agora vai.


Sibilante, a cobra já tinha parido uma legião de peçonhentos.


Se multiplicado em várias outras traiçoeiras.


Lula, aquele dito chefe da maior quadrilha da via láctea, preso.


Ah, agora sim, acabou a corrupção.


Sérgio Moro, meu herói.


Fake news, mamadeira de piroca, gayzismo, Deus, Pátria e família.


Bolsonaro no poder.


Família acima de tudo, Mito por cima de todos.


Devastação, desmonte, desinformação, fome, miséria e mortes aos montes por uma “gripezinha”.


Cloroquina pra curar, vacina para matar e arma para libertar.


O guizo da serpente avisa que ela ainda está à solta e ativa.


Tem uma maldição da Medusa que, há quase uma década, deixa um país petrificado.

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